Os carros eram um agrado. Estavam sempre à disposição, de vários modelos e para qualquer fim. Tinham tanque cheio e reabastecimento garantido. Nos hotéis, bancados por fins de semana seguidos, hospedagens com a respectiva esposa ou alguma acompanhante, com a devida discrição. Passagens aéreas? Quando precisaram, foram dadas também. Almoços? Descobriram dois, mas talvez tenham sido mais.
Para tudo isso, que a Polícia Federal e os próprios relatórios da Controladoria Geral da União (CGU) chamaram de propina, houve o valor detalhado e onde foi obtida a prova do crime. É um mapa minucioso de todo o trajeto da corrupção estabelecida entre servidores do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e as empreiteiras que realizavam obras nas BRs cearenses. Ontem, O POVO revelou, com exclusividade, que o rombo no Dnit-CE chegou a R$ 27,8 milhões, segundo a CGU. Valores contabilizados a partir de contratos fraudados ou mantidos sob irregularidades e em propinas que eram repassadas a quem ajudava no esquema.
Nos pagamentos indevidos em cash, dinheiro vivo, valores rastreados que variavam de pouco mais de R$ 500 até R$ 12 mil. Denúncia confirmada pelas anotações nas agendas das secretárias das empreiteiras. Numa delas, datada de setembro de 2004: “Emergência BR-020 R$ 10.100,00” e o nome do engenheiro responsável (ou agraciado). Nesses papéis apreendidos, a polícia conseguiu comprovar pouco acima de R$ 34 mil repassados. Só de uma construtora.Na lista das “despesas com combustível” – igualmente nominadas de propinas pela CGU e PF -, 56 pagamentos que somaram R$ 25.262,52. Somente no intervalo entre 20 de janeiro e 20 de fevereiro de 2010, uma picape Hilux usada por um dos servidores chegou a ter um abastecimento bancado de R$ 1.421,85. O mesmo veículo (placa repetida 14 vezes no relatório) somou mais R$ 10.139,65 de combustível no período entre abril/2009 e junho/2010. Coisa para queimar muita quilometragem.
A PF apreendeu muito mais desse propinoduto entre as agendas e bilhetes das secretárias das construtoras, nos pendrives, notebooks, HDs, CDs e DVDs e nas residências dos envolvidos com o escândalo. Um ano depois do caso descoberto, através da Operação Mão Dupla, todo esse material integra dois processos que tramitam na Justiça Federal: uma ação cível de improbidade administrativa, na 1ª Vara Federal, com 18 pessoas e nove empresas como denunciados; e uma ação penal, que corre na 11ª Vara Federal, com cinco réus.
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